O Patrimônio em Cena na Busca pelo Tempo Perdido
A Cidade dos Aromas – São Felix/BA. − © http://www.ufrb.edu.br/ebecult/wp-content/gallery/cidade-de-cachoeira/rio-3.jpg.
- Retrato (0.20 x 0.25cm).
A importância
de um evento acadêmico que tenha como foco um trabalho de Extensão torna-se
cada vez mais propício para divulgar e relatar as aprendizagens vivenciadas,
tanto na ambiência universitária ou no ambiente prático de uma aula de campo,
permitindo aos alunos e professores, aproximarem-se da realidade previamente
estabelecida no perímetro de uma região a ser estudada e, em razão dos debates
teóricos desenvolvidos em sala de aula ao longo de um Semestre, podem chegar o
mais próximo da identidade de um pesquisador. O Património em Cena esta em sua
quarta edição e caminha para se efetivar como um encontro de pesquisadores para
trocas de múltiplas experiências. Vincula-se aos estudos do Patrimônio, da
Memória e se incorpora a uma Sociologia do Imaginário, pois quer sempre
estreitar os laços que separam as questões de Preservação Patrimonial,
ligando-a as diferentes dimensões da cultura material, permeada pelas dimensões
culturais, políticas, pedagógicas e transversais.
Nesta
empreitada, a cidade heroica de Cachoeira na Bahia, palco de grandes conquistas
no processo de Independência, foi tomada pelos alunos da Disciplina Preservação
Patrimonial III do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial de São
Raimundo Nonato, no Sudeste do Piauí. Na ocasião, foi possível identificar e
discutir aspectos da produção e organização do espaço geográfico urbano, em
especial os elementos de ordem ambiental, patrimonial, econômicos, sociais e
culturais, tendo como referencial o Patrimônio Urbano. Para dar conta dessa
empreitada, elegeram-se como pontos de visitação as áreas de ruinas/casarios
nos arruados do burgo de Cachoeira e São Felix, cidades separadas pelo Rio
Paraguaçu. Nestas localidades verificou-se que ainda ocorrem algumas práticas
de preservação do patrimônio arquitetônico colonial, visto que são cidades
tombadas e, apresentam diversas experiências de ressignificação do patrimônio
como vetor de desenvolvimento cultural e patrimonial, passando pelo turismo
sustentável e pelos processos de revitalização da cultura e dos costumes da
comunidade através da memória e do pertencimento. Isto posto, buscou-se
perceber e explorar as intensas interfaces existentes entre o patrimônio
histórico e cultural, a religiosidade, seus lugares de memória, suas histórias,
suas tradições e os deferentes modos deste imaginário ao se relacionar com a
espacialidade urbana. Sob esta perspectiva, buscou-se pensar/repensar a noção
de patrimônio material e imaterial através de um sítio urbano pleiteado por
diversas abordagens metodológicas junto à pesquisa participante, através de entrevistas,
relatos fotográficos, análise de documentos e visitações públicas a diversos
logradouros para compreender as dinâmicas locais.
O Município de
Cachoeira no Recôncavo congrega experiências sociais significativas de produção
turística com forte preponderância no turismo religioso e de memória e
pertencimento cultural. Em especial, na perspectiva das próprias elaborações
arquitetônicas que se integram num mesmo espaço urbano, tendo como norte o
ponto de vista do imaginário do cotidiano sociocultural, pelos deslocamentos
cabíveis a um processo de tentativa constante de revitalização patrimonial
organizado pela sociedade civil através do Programa Monumenta que viabilizou a reforma e manutenção dos Casarios e
Igrejas do Sítio em estudo, como forma de manter presente a importância do
patrimônio arquitetônico urbano que está no circuito da especulação
imobiliária, fato que vem sendo abordado através do eixo Patrimônio Urbano das
Cidades através da Urbanização e das Políticas de Mobilidade Urbana, pensado para
cidades de médio e pequeno porte, que são responsáveis por gerir uma microrregião.
A proposito,
os acadêmicos foram orientados a perceberem os impactos oriundos da
mercantilização do espaço urbano, pela especulação imobiliária, ao tempo em que
se organizaram para compreender de que forma e que políticas públicas são
importantes para fazer da questão da preservação da memória coletiva uma
questão de cidadania para a promoção do desenvolvimento social. No âmbito mais
geral, interessou-se por conhecer tais dinâmicas e o modo como as populações
tradicionais e não-tradicionais se relacionam com o ambiente humano em questão,
quando o foco é manter tradições e ligar-se ao que é patrimônio como material e
imaterial. Esta questão foi um dos elementos chaves para o empreendimento da
aula de campo como ação de Extensão Universitária no prolixo diálogo com a
sociedade pela implementação de políticas de afirmação social que passem pelo
currículo escolar e atendam às outras demandas formativas, sendo possível
confrontar teorias e hipóteses com dinâmicas que se materializam no espaço
patrimonial nas áreas visitadas, favorecendo assim, a junção dos conhecimentos
teóricos com o aprendizado empírico, sobre a Cachoeira, no Recôncavo Baiano,
cidade heroica, palco de batalhas pela Independência, hoje representada historicamente pela busca pelo
tempo perdido, onde sua religiosidade e sua relação com a matriz africana,
permeiam a elaboração e a consolidação de uma cultura relacionada a um
território construído por essa gente, nascida nos eitos da escravidão que
resistem preservando a memória de uma cultura de luta que esta para além da
própria preservação arquitetônica do patrimônio edificado, pois resistem ao
tempo dentro da própria busca pelo tempo perdido... Odoiá! Odoiá! Odoiá!
Gênesis Naum de Farias
Sertão Profundo, Julho de 2014.
Imprensa
Foucaultiana®
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